AUGUSTO STRESSER

AUGUSTO STRESSER

ÓPERA SIDÉRIA


A ópera SIDÉRIA fez estreia em 03 de maio de 1912, no Teatro Guayra (prédio antigo, hoje Biblioteca Pública do Paraná), na cidade de Curitiba/PR.

Obra de Augusto Stresser, foi originariamente escrita em 1909 em dois atos, em partitura para piano e vozes. Posteriormente, recebeu acréscimo de um terceiro ato e orquestração de Léo Kessler, adquirindo a forma final como foi apresentada a partir de 1912.

A ópera tem como pano de fundo a Revolução Federalista, que as cidades de Curitiba e Lapa haviam vivenciado poucos anos antes, com dramaticidade, no confronto conhecido como Cerco da Lapa. Por sua vez, o libreto conta a história de um amor romântico e trágico, no triângulo amoroso entre a jovem Sidéria, o idealista Alceu e o apaixonado Juvenal.

segunda-feira, 3 de março de 2014

CENOGRAFIA


Fim de semana, segunda feira de carnaval. Como as pessoas se divertem? Não sei. Mas por aqui, terminando as telas do cenário da ÓPERA SIDÉRIA, colocando as “nuvens”, porque semana que vem todas precisam ir prá costura! 




Mas vou contar para o leitor: nesta montagem, a cenografia era um problema, porque mesmo com as restrições orçamentárias fazíamos questão de que também na cenografia houvesse referências histórias da concepção original do concerto, como na sua estréia em 1912.

No final do século XIX, a grande ópera reunia as quatro maiores expressões artísticas da época: a literatura (pelo libreto), a dramaturgia, a música (no canto, e na orquestração), e as artes plásticas (no cenário). E quando Augusto Stresser estreiou a ÓPERA SIDÉRIA, em 1912, ainda vigorava uma estética cênica onde o ponto central era uma imensa tela cenográfica no fundo do teatro, à frente da qual os cantores declamavam e cantavam suas árias. 


Para a obra levada aos palcos do Teatro Guayra, foram Guilherme Lobe e Richard Wagner, os responsáveis pelas três grandes telas que iluminam o fundo de palco, uma para cada ato, pintadas com modelos locais.

ÓPERA SIDÉRIA 1912 - tela cenográfica de Guilherme Lobbe, TERCEIRO ATO



Pensava-se, então, na estrutura cênica do palco, dentro dos princípios estéticos do barroco, fortemente influenciados por Galli Bibiena, um dos cenógrafos mais influentes desde o século XVIII, além de desenhista/arquiteto de teatros na França, Itália, Áustria e Hungria.

Bibiena e seus contemporâneos firmaram a tendência ao gigantismo e ao esplendor dos teatros, alterando a escala dos cenários:

(...) usando a perspectiva em ângulo. Em vez de ter um ponto de fuga no centro do cenário, utilizou dois ou mais ângulos nos lados do cenário. Alterou a escala dos cenários, separando-os do auditório, tanto em ângulo como em escala. Considerou o palco pequeno para os edifícios de seu cenário, fazendo seu desenho ultrapassar verticalmente os limites da boca de cena.“ (NERO, Cyro del. Máquina para os Deuses, Anotações de um Cenógrafo e o discurso da Cenografia. Editora SENAC, Edições SESCPS, 2009, pg 211.)



Em outras palavras, a ÓPERA SIDÉRIA precede a grande revolução da cenografia, que ocorria na Europa nesse início de século XX, e que veio através das reflexões de Adopho Appia (1862/1928) que, tentando compreender a sensação de falsidade que percebe ao assistir às primeiras encenações da obra de Wagner, reflete que o corpo humano, tridimensional, :


(...) jamais poderá se relacionar, em cena, com um objeto bidimensional, como são os telões. O próprio ator terá dificuldade em interpretar com um painel que não preenche, por exemplo, os contornos de seu corpo. Como sentar numa cadeira pintada na parede? Como permitir que os fluxos energéticos do corpo humano circulem, como quando sentado numa cadeira? Como exprimir uma verdade que ele, o ator, não está sentindo? A interpretação passaria a ser falsa nessa disposição espacial. “ (VIANNA, Fausto. Figurino Teatral e as renovações do Século XX. Estação das Letras e Cores Editora E FAPESP, 2010, São Paulo/SP, pg 17/18.)


Assim, não poderia faltar uma tela cênica nesta montagem da ÓPERA SIDÉRIA. Tampouco poderia ser outro motivo, que não nossos pinheiros, tão marcantes na paisagem curitibana, tema da mais elogiada tela de fundo da concepção original. Em fase final, lá estão... pinheiros... pinheiros... e mais pinheiros!


  




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