Fim
de semana, segunda feira de carnaval. Como as pessoas se divertem? Não sei. Mas por aqui, terminando
as telas do cenário da ÓPERA SIDÉRIA, colocando as “nuvens”, porque semana que vem todas precisam ir prá costura!
Mas vou contar para o leitor: nesta montagem, a cenografia era um
problema, porque mesmo com as restrições orçamentárias fazíamos questão de que
também na cenografia houvesse referências histórias da concepção original do
concerto, como na sua estréia em 1912.
No
final do século XIX, a grande ópera reunia as quatro maiores expressões
artísticas da época: a literatura (pelo libreto), a dramaturgia, a música (no
canto, e na orquestração), e as artes plásticas (no cenário). E
quando Augusto Stresser estreiou a ÓPERA SIDÉRIA, em 1912, ainda vigorava uma
estética cênica onde o ponto central era uma imensa tela cenográfica no fundo
do teatro, à frente da qual os cantores declamavam e cantavam suas árias.
Para
a obra levada aos palcos do Teatro Guayra, foram Guilherme Lobe e Richard
Wagner, os responsáveis pelas três grandes telas que iluminam o fundo de palco,
uma para cada ato, pintadas com modelos locais.
ÓPERA SIDÉRIA 1912 - tela cenográfica de Guilherme Lobbe, TERCEIRO ATO |
Pensava-se,
então, na estrutura cênica do palco, dentro dos princípios estéticos do
barroco, fortemente influenciados por Galli Bibiena, um dos cenógrafos mais influentes
desde o século XVIII, além de desenhista/arquiteto de teatros na França,
Itália, Áustria e Hungria.
Bibiena
e seus contemporâneos firmaram a tendência ao gigantismo e ao esplendor dos
teatros, alterando a escala dos cenários:
“(...) usando a perspectiva em ângulo.
Em vez de ter um ponto de fuga no centro do cenário, utilizou dois ou mais
ângulos nos lados do cenário. Alterou a escala dos cenários, separando-os do
auditório, tanto em ângulo como em escala. Considerou o palco pequeno para os
edifícios de seu cenário, fazendo seu desenho ultrapassar verticalmente os
limites da boca de cena.“
(NERO, Cyro del. Máquina
para os Deuses, Anotações de um Cenógrafo e o discurso da Cenografia.
Editora SENAC, Edições SESCPS, 2009, pg 211.)
Em
outras palavras, a ÓPERA SIDÉRIA precede a grande revolução da cenografia, que
ocorria na Europa nesse início de século XX, e que veio através das reflexões
de Adopho Appia (1862/1928) que, tentando compreender a sensação de falsidade
que percebe ao assistir às primeiras encenações da obra de Wagner, reflete que o
corpo humano, tridimensional, :
“(...) jamais poderá se relacionar, em cena, com um objeto bidimensional,
como são os telões. O próprio ator terá dificuldade em interpretar com um
painel que não preenche, por exemplo, os contornos de seu corpo. Como sentar
numa cadeira pintada na parede? Como permitir que os fluxos energéticos do
corpo humano circulem, como quando sentado numa cadeira? Como exprimir uma
verdade que ele, o ator, não está sentindo? A interpretação passaria a ser
falsa nessa disposição espacial. “ (VIANNA, Fausto. Figurino Teatral e as renovações do Século XX. Estação das Letras e Cores Editora E FAPESP,
2010, São Paulo/SP, pg 17/18.)
Assim,
não poderia faltar uma tela cênica nesta montagem da ÓPERA SIDÉRIA. Tampouco
poderia ser outro motivo, que não nossos pinheiros, tão marcantes na paisagem
curitibana, tema da mais elogiada tela de fundo da concepção original. Em fase
final, lá estão... pinheiros... pinheiros... e mais pinheiros!
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