AUGUSTO STRESSER

AUGUSTO STRESSER

ÓPERA SIDÉRIA


A ópera SIDÉRIA fez estreia em 03 de maio de 1912, no Teatro Guayra (prédio antigo, hoje Biblioteca Pública do Paraná), na cidade de Curitiba/PR.

Obra de Augusto Stresser, foi originariamente escrita em 1909 em dois atos, em partitura para piano e vozes. Posteriormente, recebeu acréscimo de um terceiro ato e orquestração de Léo Kessler, adquirindo a forma final como foi apresentada a partir de 1912.

A ópera tem como pano de fundo a Revolução Federalista, que as cidades de Curitiba e Lapa haviam vivenciado poucos anos antes, com dramaticidade, no confronto conhecido como Cerco da Lapa. Por sua vez, o libreto conta a história de um amor romântico e trágico, no triângulo amoroso entre a jovem Sidéria, o idealista Alceu e o apaixonado Juvenal.

Libretto de JAYME BALLÃO


SIDÉRIA - Ópera em 3 actos

Libreto De Jayme Ballão

Música de Augusto Stresser

 
Representada no dia 3 de Maio de 1912, em Coritiba, Estado do Paraná, no theatro “Goayra” sob os auspícios do Exm. Sr. De. Carlos Cavalcanti de Albuquerque, presidente do Estado, pelos seguintes amadoes:

 Sideria – Senhorita Marietta Bezerra
Thylde – Senhorita Josepha Correia de Freitas
Alceu – Tenor Jorge Wucherpfennig
Paulo – Constante Fruet
Juvenal – Jorge Leitner
Camponeza – Senhorita Anna Kirchgäessner
Camponez – José Buzetti Mori
Outro camponez – Luiz Romanó
Maestro concertador e director da orchestra: Léo Kessler

 Personagens
Sidéria – soprano
Thylde, noiva de Alceu – soprano
Alceu – tenor
Juvenal – tenor
Paulo, pae de Sidéria – barytono
Uma camponeza – mezzo soprano
Um camponez – baixo
Outro camponez – baixo
Camponezas,.camoinezes, soldados
Epoca da Revolução em 1893

 

 

ACTO I

A scena representa de um lado a casa de Sidéria, situada no campo; de outro lado o jardim, e ao fundo uma paisagem com pinheiros.

 

Scena I

Paulo (sahindo de casa).

Lavrador que não cancãs, lavrador,
Lavras a terra e lanças a semente
No seu seio, a semente se faz flor,
E a flor se faz o pão alvi-nitente...

Lavrador que não canças, lavrador...

 

Scena II

Sidéria (sahindo de casa ás ultimas palavras do lavrador, dirije-se para o jardim em visita ás suas rozeiras predilectas):

Doce manhã de primavera! Argentea
A luz accorda o alegre passaredo...
Flora, ao despertar, move, sorridente,
Os verdejantes braços do arvoredo...
Sob o verde docel, inebriada,
Minh´alma sonha e deixa-se embalar...
Das aves ouve, em densa revoada,
Segredos que ellas dizem a cantar...

(mudando).

Hoje, faço annos... quantos? O pomar
Parece quinze vezes floresceu...
Quinze... a ninguém eu quero confiar...

 

Scena III

Camponezes, (entram sobraçando flores)

A data em que a mais linda flor nasceu
- ... Os roseirais cobriram-se de rosas
P´ra festejar das rosas a mais casta.
Ditosa flor, formosa entre as formosas,
Que a natureza em seu collar engasta...

 BAILADO DE CAMPONEZES

Sidéria

Os brindes que me daes
Contente eu restituo
A quem merece mais...

(Beija uma das camponezas e restitue-lhe algumas flores)

(Camponezes retirando-se)
A data em que a linda flor nasceu...
... Os roseiraes cobriram-se de rosas
P’ra festejar das rosas a mais casta.
Ditosa flor, formosa entre as formosas
Que a natureza em seu collar engasta...

 

Scena IV

Juvenal (entrando)

Casta e bella Sideria...
Bom dia...

Sidéria (curvando-se)
... Meu senhor...

Juvenal (offerecendo-lhe flores).
Vale mais do que uma jóia
O presente do amor...

Sidéria (indifferente)
Agradeço a bondade...

(Deixa as flores sobre o banco do jardim e entra em casa).

 
Scena V

Juvenal (com ironia)

Não comprehende a creança
Que este amor não se rende,
Não cede e não se cancã (sahe)

 
Scena VI

Paulo (introduzindo o hospede)
Por aqui... considere
Como próprio este lar...

Alceu (descançando a mala)
Obrigado... obrigado...

Paulo
É dever hospedar... (Sidéria apparece no patamar da casa)

 
Scena VII

Paulo (apresentando Sidéria, que tem descido ao jardim)
Minha filha Sidéria...

Alceu, (curvando-se)
Meiga e boa menina....

Paulo (para Sidéria)
Nosso hospede...acolhei-o ... (entra em casa).

 
Scena VIII

Sidéria
O prazer nos domina... (dirigindo-se a Alceu)
Deveis estar cançado...
Vindes de lonte?

 Alceu
... Sim.
Venho fugindo: ma horda
Persegue atraz de mim...

 Sidéria
Certamente não homens
Maus...

 Alceu
- Perversos, tyrannos,
Cuja fama, menina,
Durará muitos annos...

 Sidéria (com impulsivo accento)
Horror!... Conte-me a historia
Desses homens...

 Alceu (com melancholia)
... Lá fora
A guerra recrudesce
E vidas mil devora...
Irmãos se batem contra
Irmãos, na guerra atroz...
A honra sucumbe; a vida
Está nas mãos do algoz...

 Sidéria
É singela a hospedagem,
Mas seguro este azylo;
Faltas suppre a amizade
Neste canto tranquillo...

(A’s ultimas palavras, Paulo entra; Sidéria, mostrando a Alcei a entrada, acopanha-o até o patamar e volta, sahindo pelo fundo).

 
Scena IX

Paulo (A’ parte, apprehensivo)
Desagrada-me a insistência
De Juvenal; não tolero
Sua presença; detesto-o...
Só de vel-o desespero...

(Implorando)

Affastae de nossa casa,
O’ Deus, o espírito odiento!
O seu plano é tenebroso,
E’ sinistro o seu intento... (sahe pelo lado do jardim).

 
 Scena X
Sidéria (voltando em companhia de uma camponeza)

Ai... eu não sei o que sinto...
Camponeza (anciosa)

Fala... fala... estás doente?

 Sidéria
Não... sim... ignoro o que soffro...
Algo perturba-me a mente...

Camponeza
Soffres?

Sidéria
... Sinto uma tristeza
Que se espalha pela terra...
E’ doce o pesar que sinto,
Pesar que prazer encerra...
Não vejo aves e ouço o canto
De aves; flores não me beijam
E sinto o mel de seus beijos,
Onde as abelhas adejam...
Sonhar é tão doce!... sonho;
Vejo lagos azulados,
Campos colmados de flores
E céus de estrellas colmados...
A própria tristeza é doce,
É doce a própria saudade.

(Sahem pelo lado do jardim).

 Scena XI

Alceu (entrando)
Vida de minha vida
Chorou na despedida...
Por ella – tão distante!
O peito arqueja, amante...
Perseguido, sem vel-a,
Sigo á luz dessa estrella...

 
Scena XII

Sidéria (entra e depois de observal-o)
Os seus olhos estão tristes...

Alceu (simulando)
Sinto a ausência de uma irmã...

Sidéria
Vê-se que a causa é bem justa
E que a tristeza não é vã...

 Ambos
Se a alma geme saudosa
E o coração se inflamma
A vida se illumina
Á luz da mesma chamma...
O prazer que se sente
Da ventura e de dor
SAUDADE, uns denominam
E outros – SIMPLES AMOR...

 Juvenal (que tem entrado observa Alceu, à parte)
Estranha coincidência...
São perfeitos os signaes
Do fugitivo... (approxima-se e dirige-se à Sidéria) Desculpe...

 Sidéria
Nada, não importunaes...

Alceu (á parte)
Antipathica figura...

Sidéria (à Alceu)
O dia está convidando
A passearmos no jardim...

Alceu
Obedeço ao vosso mando... (Sahem pelo lado do jardim)

 
Scena XIV

Paulo (entrando com Sidéria)
Futuro extranho o coração advinha,
Nas linhas negras que o horizonte turva...

Sidéria (à parte, apprehensiva)
Uma suspeita... a trahição não cancã...
- A mente sobresalta e á dor me curva...

 
Scena XV

Alceu (voltando do jardim)
Feliz de quem, no recesso
Aromal da natureza,
Vive o viver da innocencia,
Respira este ar de pureza...

 Paulo
Feliz quando é calmo o tempo
Quando está longe a tormenta...
- O raio abate o pinheiro
A calma e a paz afugenta...

 Camponez (entrando)
Approxima-se uma escolta...
Soldados à toda brida...

(todos vão ao fundo e voltam ao entrar a escolta, acompanhada de Juvenal)

 
Scena XVI

Juvenal
Eis alli o traidor...

(Os soldados cercam Alceu; há profunda indignção e entram os camponezes)

Sidéria
Injusto...

Alceu (para Juvenal)
Vil delator...

Camponezes
Vil delator...

Coro
O lar feliz e tranquillo
Na tristeza deixa emmerso...

 

FIM DO PRIMEIRO ACTO

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