SIDÉRIA - Ópera em 3 actos
Libreto De Jayme Ballão
Música de Augusto Stresser
Alceu – Tenor Jorge Wucherpfennig
Paulo – Constante Fruet
Juvenal – Jorge Leitner
Camponeza – Senhorita Anna Kirchgäessner
Camponez – José Buzetti Mori
Outro camponez – Luiz Romanó
Maestro concertador e director da orchestra: Léo Kessler
Sidéria – soprano
Thylde, noiva de Alceu – soprano
Alceu – tenorJuvenal – tenor
Paulo, pae de Sidéria – barytono
Uma camponeza – mezzo soprano
Um camponez – baixo
Outro camponez – baixo
Camponezas,.camoinezes, soldados
Epoca da Revolução em 1893
ACTO I
A
scena representa de um lado a casa de Sidéria, situada no campo; de outro lado
o jardim, e ao fundo uma paisagem com pinheiros.
Scena I
Paulo
(sahindo de casa).
Lavrador que não cancãs, lavrador,
Lavras a terra e lanças a sementeNo seu seio, a semente se faz flor,
E a flor se faz o pão alvi-nitente...
Lavrador que não canças, lavrador...
Scena II
Sidéria
(sahindo de casa ás ultimas palavras do
lavrador, dirije-se para o jardim em visita ás suas rozeiras predilectas):
Doce manhã de primavera! Argentea
A luz accorda o alegre passaredo...Flora, ao despertar, move, sorridente,
Os verdejantes braços do arvoredo...
Sob o verde docel, inebriada,
Minh´alma sonha e deixa-se embalar...
Das aves ouve, em densa revoada,
Segredos que ellas dizem a cantar...
(mudando).
Hoje, faço annos... quantos? O pomar
Parece quinze vezes floresceu...Quinze... a ninguém eu quero confiar...
Scena III
Camponezes,
(entram sobraçando flores)
A data em que a mais linda flor nasceu
- ... Os roseirais cobriram-se de rosasP´ra festejar das rosas a mais casta.
Ditosa flor, formosa entre as formosas,
Que a natureza em seu collar engasta...
Sidéria
Os brindes que me daes
Contente eu restituoA quem merece mais...
(Beija
uma das camponezas e restitue-lhe algumas flores)
(Camponezes
retirando-se)
A data em que a linda flor nasceu...... Os roseiraes cobriram-se de rosas
P’ra festejar das rosas a mais casta.
Ditosa flor, formosa entre as formosas
Que a natureza em seu collar engasta...
Scena IV
Juvenal
(entrando)
Casta e bella Sideria...
Bom dia...
Sidéria (curvando-se)
... Meu senhor...
Juvenal (offerecendo-lhe flores).
Vale mais do que uma jóiaO presente do amor...
Sidéria
(indifferente)
Agradeço a bondade...
(Deixa as
flores sobre o banco do jardim e entra em casa).
Juvenal
(com ironia)
Não comprehende a creança
Que este amor não se rende,Não cede e não se cancã (sahe)
Paulo
(introduzindo o hospede)
Por aqui... considereComo próprio este lar...
Alceu (descançando a mala)
Obrigado... obrigado...
Paulo
É dever hospedar... (Sidéria apparece no patamar da casa)
Paulo
(apresentando Sidéria, que tem descido ao
jardim)
Minha filha Sidéria...
Alceu,
(curvando-se)
Meiga e boa menina....
Paulo (para Sidéria)
Nosso hospede...acolhei-o ... (entra em casa).
Sidéria
O prazer nos domina... (dirigindo-se a Alceu)Deveis estar cançado...
Vindes de lonte?
Venho fugindo: ma horda
Persegue atraz de mim...
Maus...
Cuja fama, menina,
Durará muitos annos...
Desses homens...
A guerra recrudesce
E vidas mil devora...
Irmãos se batem contra
Irmãos, na guerra atroz...
A honra sucumbe; a vida
Está nas mãos do algoz...
Mas seguro este azylo;
Faltas suppre a amizade
Neste canto tranquillo...
(A’s ultimas
palavras, Paulo entra; Sidéria, mostrando a Alcei a entrada, acopanha-o até o
patamar e volta, sahindo pelo fundo).
Paulo
(A’ parte, apprehensivo)
Desagrada-me a insistênciaDe Juvenal; não tolero
Sua presença; detesto-o...
Só de vel-o desespero...
(Implorando)
Affastae de nossa casa,
O’ Deus, o espírito odiento!O seu plano é tenebroso,
E’ sinistro o seu intento... (sahe pelo lado do jardim).
Ai... eu não sei o que sinto...
Camponeza
(anciosa)Fala... fala... estás doente?
Algo perturba-me a mente...
Camponeza
Soffres?
Sidéria
... Sinto uma tristezaQue se espalha pela terra...
E’ doce o pesar que sinto,
Pesar que prazer encerra...
Não vejo aves e ouço o canto
De aves; flores não me beijam
E sinto o mel de seus beijos,
Onde as abelhas adejam...
Sonhar é tão doce!... sonho;
Vejo lagos azulados,
Campos colmados de flores
E céus de estrellas colmados...
A própria tristeza é doce,
É doce a própria saudade.
(Sahem pelo
lado do jardim).
Alceu
(entrando)
Vida de minha vidaChorou na despedida...
Por ella – tão distante!
O peito arqueja, amante...
Perseguido, sem vel-a,
Sigo á luz dessa estrella...
Sidéria
(entra e depois de observal-o)
Os seus olhos estão tristes...
Alceu (simulando)
Sinto a ausência de uma irmã...
Sidéria
Vê-se que a causa é bem justaE que a tristeza não é vã...
E o coração se inflamma
A vida se illumina
Á luz da mesma chamma...
O prazer que se sente
Da ventura e de dor
SAUDADE, uns denominam
E outros – SIMPLES AMOR...
São perfeitos os signaes
Do fugitivo... (approxima-se e dirige-se à Sidéria) Desculpe...
Alceu
(á parte)
Antipathica figura...
Sidéria (à Alceu)
O dia está convidandoA passearmos no jardim...
Alceu
Obedeço ao vosso mando... (Sahem pelo lado do jardim)
Paulo
(entrando com Sidéria)
Futuro extranho o coração advinha,Nas linhas negras que o horizonte turva...
Sidéria
(à parte, apprehensiva)
Uma suspeita... a trahição não cancã...- A mente sobresalta e á dor me curva...
Alceu
(voltando do jardim)
Feliz de quem, no recessoAromal da natureza,
Vive o viver da innocencia,
Respira este ar de pureza...
Quando está longe a tormenta...
- O raio abate o pinheiro
A calma e a paz afugenta...
Soldados à toda brida...
(todos vão ao fundo e voltam ao entrar a escolta, acompanhada de Juvenal)
Juvenal
Eis alli o traidor...
(Os soldados
cercam Alceu; há profunda indignção e entram os camponezes)
Sidéria
Injusto...
Alceu
(para Juvenal)
Vil delator...
Camponezes
Vil delator...
Coro
O lar feliz e tranquilloNa tristeza deixa emmerso...
FIM
DO PRIMEIRO ACTO
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